Carta de A.
Você pode ler esse texto ouvindo Peça felicidade
Brasília, 31 de janeiro de 2018.
Esse momento, esse tempo, esse pedaço de papel, estão cheios
de gratidão. Gratidão a Deus por me ensinar na prática a graça da fortaleza, da
confiança e da fé. Por permanecer me amando mesmo eu não o sentindo, permaneceu
mesmo com as minhas lágrimas, minhas reclamações, minhas fraquezas e
inconstâncias. Foi fiel no Seu amor por mim mesmo diante da minha tibieza.
OBRIGADO DEUS!
Gritos de gratidão são dados aos meus pais que foram firmes
na sua vocação. Que continuaram comigo mesmo diante das minhas dúvidas profissionais
por me amarem de forma concreta e visível. Por proporcionarem tudo que eu
precisava para crescer em estatura, graça e sabedoria. Gratidão a minha mãe,
exemplo de cozinheira, que manifesta seu amor e seu carinho nas refeições que
prepara. Obrigado por ser essa mulher maravilha na minha vida! Grato sou também
aos meus irmãos que me apoiaram, mesmo sem entender o que se passava no
estranho eu.
Não posso deixar de agradecer aos meus amigos, as minhas
cobaias, por aceitarem o meu convite de participarem da minha existência e por
valorizarem o meu chamado para vivenciarem comigo o tudo desse momento.
Obrigado por quererem viver comigo e principalmente por me permitirem
participar da vida de vocês. O meu muito obrigado! Obrigado aos meus
amigos que moram distantes que permaneceram e me animaram a continuar e foram
peças importantes para aliviar o estresse desse tempo.
Agradeço também aos meus professores, que me ensinaram a amar
essa profissão, que mostraram que cozinhar está muito além de dar de comer.
Obrigado por ensinarem a ser cozinheiro e não somente um preparador de
refeições. Obrigado a instituição que me acolheu, por seus funcionários que me
ajudaram a crescer como estudante e como pessoa.
Difícil traduzir em palavras tudo que esse momento, esse
tempo, esse pedaço de papel, causaram no meu eu. Foi gerado medo, dúvidas,
dores, autoconhecimento, alegrias, conquistas, sorrisos, orgulho e comidas.
É gerado ainda felicidade, futuro, sonhos, confiança, autoconhecimento,
alegrias, sorrisos e muita comida.
Percebi que cozinhar é um ato de amor. Tanto a oradora quanto
o paraninfo da minha colação exalavam em seus discursos como ato de
cozinhar vai além de técnicas de cocção, apresentação de pratos ou de boas
práticas na cozinha. Muito além de combinação de temperos, texturas, formas e
sabores. Naqueles pratos, nos nossos pratos, contém muito amor, dedicação,
estudo, cultura e visão de mundo.
Amor pela profissão. Amor por trabalhar com uma ação que
existe desde a origem humana. Muitos de nós não somos muito bons com as
palavras e essa é a forma como escolhemos dizer o bonito e complexo 'eu te
amo'. A frase que me guiará na minha vida profissional une tudo isso que foi
dito e sentimos, expressa de uma forma bem simples e clara: "Cozinhar
também é uma forma de amar!". Então, fique atento aos nossos, aos meus,
convites para comer. Eles dizem "deixa eu te amar", "deixa eu te
mimar" ou " Ei, eu te amo".
Os
nossos preparos exalam também dedicação. Porque nossos pratos precisam da nossa
atenção, quantos testes precisam ser feitos até chegar ao sabor do amor.
Talvez, eu não tenha sido o melhor aluno da minha classe, mas tenho certeza que
existiu dedicação em entender a importância das técnicas, das proporções e
harmonia no prato. Os nossos pratos, os meus pratos, trazem história, cultura,
pessoas, tradição e principalmente a forma como enxergamos o mundo. Quero que o
meu cozinhar marque a vida de quem o come, que se faça memória sempre que
lembra de mim e o quanto se sentiu especial, amado e querido com cada garfada.
Não quero só cozinhar por cozinhar ou para ganhar dinheiro. Quero cozinhar para
marcar a sua vida.
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